segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Outras Formas de Ver

Vocês sabiam que simples temperos como alecrim e orégano ajudam a curar doenças, ou que a pimenta influencia o humor? Vocês sabem o que o manjericão significa para os mexicanos ou para os indianos? Vocês saberiam descrever a textura e a temperatura das folhas e flores de uma calandiva? Venham desvendar esses e outros maravilhosos segredos da natureza no Jardim Sensorial Itinerante! Sim, vocês já ouviram falar nele por aqui. Em Agosto ele estava na Feira de Tecnologia Assistiva do Rio de Janeiro, e agora está no jardim do Museu da República, no Catete. Vocês que moram na cidade maravilhosa ou que forem dar um passeiozinho por ela, venham nos visitar! No Jardim Sensorial os visitantes são vendados e guiados por monitoras cegas ou com baixa visão, por um circuito de plantas e flores, onde podem tocar, cheirar e sentir os vegetais e recebem sobre eles informações históricas e medicinais.
O jardim sensorial funciona de 9 da manhã às 4 da tarde e fica no Museu da República até dia 24 de Outubro. Às quintas e sextas, de 9 ao meio-dia, tem também oficinas de escultura de argila com a artista Rose Queiroz. A visita ao jardim dura em média 15 minutos e é gratuita. Dá pra aproveitar até parte da horinha de almoço para ir lá e explorar os sentidos, descobrir sensações e trocas jamais imaginadas, conhecer a natureza de maneiras bem particulares e intensas e ouvir as mais diferentes histórias contadas por mim, Moirinha, Valéria, Verônica, Rose e pelas outras flores do jardim.

O Museu da República fica ao lado da estação de metrô Catete, na rua do Catete, 153 | Catete | cep 22220-000 | Rio de Janeiro | RJ.
Nós e a primavera esperamos vocês lá!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Eu, Fabiano e Izadora

Bengala lilás tocando galhos de amoreira, céu azul de fundo

Provavelmente muita gente passa por aquela árvore e não dá a mínima. A amoreira na entradinha de uma vila em São Paulo é como os momentos raros da vida, tão singelos que tem gente que nem vê. Mas eu os vejo; e não só vejo como os ouço gritar: “Permita-se brincar, ser leve, parar e desfrutar!” Então eu brinco:

Tarde de segunda-feira, momento de ir embora.
O Fabiano me guiava e me auxiliava a Izadora.
Eu não sabia que aquela árvore na frente de onde a Celi mora,
É um pé de amora!
Buzinas, correria, pressa; deixa tudo lá fora,
o momento de viver simplesmente é agora!
O Fabiano e eu queremos amora.
Então, minha amiga Iza, que assim de cara pouca gente adora,
Viu chegada sua hora:
Ela, que vira espada, varinha mágica e microfone,
Ou qualquer coisa que mandar a imaginação de sua senhora,
Ergue-se heróica sacudindo os galhos e alcançando amoras!
Frutas na pança e corações na infância, fomos felizes embora,
Eu, Fabiano e Izadora.
Na boca ficou o doce que se demora,
Aquecendo o frio e colorindo o cinza daquela hora.
Viva a amizade, viva a Izadora!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Fio Invisível

O Maestro compôs a sinfonia perfeita e maravilhosa, nós é que tocamos desafinado. Ele escreveu melodias e participações para cada um da grande orquestra, mas não adianta tentarmos tocar sozinhos, sem olhar para o Maestro. Só conseguimos a harmonia quando retomamos a conexão com Ele, com seu andamento, com sua regência. Cada um com seu instrumento, cada um com seu papel, cada um com seu lugar na orquestra, mas todos de olho no Maestro, mesmo que às vezes Ele pareça difícil de ver. Não importa, Ele estará sempre ali, cheio de inspiração e amor por seus músicos, e quem o procurar, vai encontrar.

Foi dessa crescente consciência da sinfonia universal que nasceu a música “Eu Quero Ver”, há uns 3 anos. Lembro-me bem: eu estava no ônibus de viagem, lugarzinho aliás onde muitas canções adoram nascer, e estava deitada em duas poltronas, olhando o céu ensolarado e as árvores que passavam. Despretensiosamente, gravei a nova composição em casa, com um arranjo quase infantil, e ela acabou agradando crianças e adultos. Depois de muito apresentá-la ao vivo pelo Música no Silêncio, projeto da Vez da Voz que aproxima a música das pessoas surdas, gravamos um vídeo desta canção com Libras – Língua Brasileira de Sinais. Cerca de um ano depois, uma surpresa, dessas que só mesmo a internet pra possibilitar: alunos do Colégio Jandira, em Jussara, lá no interior de Goiás, liderados pela professora de artes Liliana Casilo, e sensibilizados pela chegada de uma aluna surda, montaram um coral de Libras na escola. Formado por crianças e adolescentes de variadas idades, o grupo troca os recreios por ensaios, realizados também no período oposto às aulas. E uma das músicas mais interpretadas pelo coral é “Eu Quero Ver”, como eles relataram à Vez da Voz e mostram em diversos vídeos no Youtube. Eles ouviram e baixaram a música do site da Vez, e já o primeiro vídeo que nos enviaram apresentando o projeto era com a mesma. Os depoimentos dos participantes do coral, o entusiasmo e a dedicação deles e de Liliana é o mais emocionante, e muito dessa emoção é passada nos vídeos. Um deles está em: http://www.youtube.com/watch?v=Hlr-kZpwLBo Que a idéia fique de inspiração para muitas escolas e grupos Brasil a fora, integrando diferentes grupos, difundindo a nossa língua nacional de sinais e compartilhando a grande dádiva divina, que é a música, também com quem não pode ouvi-la, mas pode vê-la e senti-la.
Veja também o que o jornalista da Folha de SP, Jairo Marques, falou sobre o coral de Libras do Colégio Jandira e sobre a música “Eu Quero Ver” em seu blog, o “Assim Como Você”

Nossas riquezas perdem todo o sentido quando armazenadas sem nenhum fim, retidas ou investidas no desfrute de apenas um. As canções que escrevo não são minhas, são os tesouros que a vida me dá, em forma de experiências e aprendizados, que recolho, transformo e devolvo ao mundo, numa linguagem que conheço e que todos os corações também são capazes de compreender.
Que tenhamos todos uma semana cheia de luz, de amor ao planeta e a nós próprios, um amor que se reflita em cada pequena ação e interação, em toda realização de nossos dias! Divirtam-se, cantem junto e indiquem esta canção àquela pessoa que vocês sabem que vai gostar de ouvir!
Vejam e ouçam: http://www.youtube.com/watch?v=7CijV0EA5ac
No meu site também dá pra ouvir: http://www.sarabentes.com

Eu quero ver

Eu quero ver o mundo estremecer
Quando chegar a hora de dizer
A qualquer um que em nossa vida está:
... eu dependo de você!

Eu quero ver o mundo compreender
Que um passo, um gesto, um olhar ou um romper,
Uma palavra, um som, uma invenção
afeta a vida de outro ser!

Há um fio invisível
Entre o seu e o meu desejo,
De viver o sonho, a paz,
no céu, na Terra, verde e animais!

Há um fio eternamente
Entre a sua e a minha mão;
Me conduz por meu caminho,
E eu te levo na minha canção!

Eu quero ver o mundo perceber
A humildade pra reconhecer
Que se completam todos, afinal
Somos um único mover!

Um braço, um olho, a perna ou a audição,
sabedoria, calma ou perdão,
se falta em mim e brilha em você,
são os encaixes do viver!

Há um fio invisível
Entre o seu e o meu desejo,
De viver o sonho, a paz,
no céu, na Terra, verde e animais!

Há um fio eternamente
Entre a sua e a minha mão;
Me conduz por meu caminho,
E eu te levo na minha canção!

a perfeição vai então resplandecer
No resultado dessa soma sem fim,
pra confirmar que somos todos um;
E eu confio em você!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Inseparáveis

E viva a tecnologia! Cada vez mais avançada, cada vez mais desejada e consumida, cada vez mais venerada. Graças a ela estou aqui escrevendo pra vocês, graças a ela pessoas como eu podem também botar a boca no mundo e conectar-se a ele, via e-mail, redes sociais, blogs etc, graças a ela pessoas com as maiores limitações físicas conseguem autonomia para realizar muitas coisas não só junto a um computador. Quem visitou a feira de tecnologia assistiva no Rio de Janeiro, citada por mim no último texto aqui do Boca, conheceu cadeiras de roda que sobem escadas, dispositivos como o fantástico e tão desejado aparelhinho que vai permitir que pessoas com deficiência visual tenham independência na hora de tomar o ônibus, celular que, por meio da câmera, detecta luminosidade, cor e nota de dinheiro (ainda em desenvolvimento), leitores de tela com vozes cada vez mais “humanas”, dentre tantos outros aparatos que só vêm trazer mais dignidade à vida de pessoas com deficiência e que antes só existiam nos nossos sonhos mais ousados de tecnologia. Hoje são muitos os avanços e parecem infinitas as possibilidades, embora a maioria desses recursos ainda não seja financeiramente acessível para quase todas as pessoas. Mas não é nesse aspecto que quero mergulhar. Vou contar algo que, aliás, mostra que tecnologias simples e comuns, aliadas a uma boa idéia, muitas vezes são a melhor solução.

Quem leu aqui o texto que postei sobre Giovanni Allevi, um compositor italiano muito gente boa , lembra-se de seu livro, transcrito para o Braille, que eu me desafiei a ler. Pois então, o livro já chegou em minhas mãos, só que em outro formato. Ler um livro em Braille, código que ainda não domino tão bem, e ainda em italiano, me custaria aí talvez uns três anos de peleja. Mas nem foi isso que me fez pensar em outra forma de ler este livro. Os livros em Braille ficam bastante volumosos, e, devido ao peso, sairia muito cara a remessa da Itália para cá. Então minha correspondente no país de Allevi, minha irmã Leda Bentes, comprou o livro impresso e, com o auxílio de um simples mp3 player e gravador, tem gravado sua leitura em voz alta e me manda capítulo a capítulo via e-mail. Baixo os arquivos daqui e tenho me emocionado, rido e chorado com as histórias narradas pela leitura fluida e expressiva da maninha mais velha. A ledora não é tradutora, então os textos estão todos em italiano, o que ainda poderá servir a italianos com deficiência visual se este livro falado for disponibilizado numa audioteca de lá, e é nossa intenção. Há tempos a tecnologia permite a produção e a difusão do Livro Falado; começou com a fita cassete, depois o CD e agora os arquivos digitais, que são muito mais facilmente produzidos, copiados, distribuídos e transportados. E vejam vocês: graças a ela mais uma vez, à tecnologia, minha irmã, que inclusive foi quem, via Skype, ajudou na criação e montagem do blog, lá da Itália, consegue se fazer presente e estar tão próxima a quilômetros e quilômetros, com sua voz, seu tempo, sua doação, sua boa vontade.

Assim como iniciei o texto, quero abrir sua conclusão: Viva a tecnologia! Sim, mas viva mais ainda a boa vontade humana. Ela, que chegou primeiro no mundo, merece respeito, e, ao lado da tecnologia, sua irmãzinha mais nova, torna-se muito mais poderosa e abrangente. Mas a caçulinha tecnologia, sem sua irmã mais velha, não é ninguém nessa vida. Ela se acha, vive a ilusão de que pode um dia dominar o mundo, mas a verdade é que ela é tão dependente da inteligência humana quanto nós, seres humanos, somos uns dos outros e de toda a natureza. Que vivam então inseparáveis essas duas irmãs, só produzindo boas parcerias! Obrigada, maninha!



sábado, 4 de setembro de 2010

Jardim Sensorial



Sara guia rapaz no Jardim Sensorial

Na semana passada aconteceu na cidade maravilhosa a 2° Feira Muito Especial de Tecnologia Assistiva e Inclusão Social das Pessoas com Deficiência do Rio de Janeiro. O interessse pelos produtos e serviços apresentados na feira é cada vez maior, e o público deste ano foi incrível, muito grande e participativo. Um dos estandes mais procurados foi o Jardim Sensorial, e eu tive a sorte de trabalhar lá e fazer parte desse jardim por algumas tardes. O jardim Sensorial é um circuito itinerante de plantas onde guias com deficiência visual conduzem os visitantes, vendados, proporcionando a eles um contato diferente com flores, folhas, frutos, e com seus próprios sentidos. Com a venda, as pessoas concentram maior atenção no tato, olfato e audição, e até outros tipos de percepções, despertando assim para novas formas de “ver”. Além de experimentar um pouco do mundo da ausência de visão, o público também recebe informações sobre cada plantinha que toca, cheira, sente.

Foi minha primeira experiência no Jardim Sensorial. O contato com os diversos aromas, texturas, formas e temperaturas, tão vivos e ricos, foi extremamente prazeroso também a mim, que guiava os corajosos que topavam entregar sua integridade física a guias cegas. Ensinando a eles que aquelas plantas não eram só tempero ou enfeite e explicando sobre as propriedades curativas de cada um daqueles serezinhos ali, passávamos também informações históricas e etimológicas. As pessoas guiadas saíam em geral muito emocionadas, divertidas e mais interessadas pelas plantas. Algumas não nos viam antes de colocar a venda e se surpreendiam ao saber, no meio do caminho, que estavam sendo guiadas por alguém que não enxergava. Não sei se no fundo chegavam a se arrepender de terem entrado naquela furada :D mas pelo menos ninguém tirou a venda no meio do trajeto e nem demonstrou mais medo ou insegurança por isso. Pelo contrário, a surpresa tinha sempre um efeito positivo, e certamente fez muita gente pensar, em seus próprios conceitos, nos conceitos pré-concebidos do mundo. Todos saíam satisfeitos e levavam para a casa algo além do aprendizado sobre as plantas, além dos perfumes nos dedos e do frescor nos pulmões. E dar este algo a mais às pessoas é nossa alegria! Durante as repetidas e repetidas vezes que guiei as pessoas pelo percurso, eu aproveitava para também cheirar e acariciar as plantas, que me davam tanta coisa em troca. Para mim, o contato com plantas e pessoas foi uma combinação encantadora e também só veio somar à minha vida.

Para saber mais sobre a feira e o jardim, visite: http://www.feiraassistivario2010.org.br


Sara cheirando as folhas do manjericão

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Tudo Farinha do Mesmo Saco...

É, minha gente, ainda hei de entender os caminhos do raciocínio humano. O que faz as pessoas criarem em seu imaginário a idéia de que todo cego do mundo se conhece, ou que todo cadeirante é da mesma família, ou que todo surdo estudou na mesma escola? Sim, porque é um tal da gente ouvir “Eu bem guiei um amigo seu aqui ontem” ou “Atendi uma colega sua ainda há pouco” ou “Você conhece fulano, não é? Você não conhece o fulano?!” de pessoas referindo-se a outro cidadão com a mesma deficiência que a nossa. Comentários do tipo são recorrentes, vindos dos mais variados tipos de pessoas. Outro dia cheguei cedo na rodoviária de São Paulo e fui fazer uma horinha por ali mesmo; pedi ao funcionário que me guiava que me deixasse em algum lugar onde eu pudesse me sentar. Ele me levou para umas mesinhas perto de uma lanchonete, onde, pelo som, parecia estar até bem vazio, mas ele fez questão de me botar sentada ao lado de um senhor cego, e ainda disse “Fica aqui do lado do seu amigo batendo um papinho.” Bom, a esta altura já era tarde para tentar fazer alguma escolha (e essa é uma das piores coisas quando não se enxerga: quando as pessoas acham que têm o direito de escolher por você), vamos lá então conhecer e bater um papo com mais um colega de apagão. E mal sabia o moço da rodô que papinho brabo o “meu amigo” ali desenrolaria comigo...
No metrô o que acontece muito também é, quando saltam na mesma estação dois ou mais cegos, cada um no seu caminho, o funcionário que nos espera na plataforma achar que estamos todos juntos e que vamos todos para a instituição de cegos mais próxima. Uma amiga minha, que é cega (amiga de verdade, amiga porque é linda e eu gosto dela, e não porque é cega), ao ouvir de um funcionário do metrô que uma “amiga” dela havia acabado de passar por ali, deu a resposta mais simples e perfeita, em forma de pergunta: “Você é amigo de todo mundo que enxerga?”
No último domingo, quase fui arrastada para o lado errado por conta de uma pequena coincidência somada a esta “Teoria da Nave Única”, a teoria que acredita que uma mesma nave teria trazido todos os cegos de seu planeta distante para a Terra e que, durante a longa viagem, tivemos a oportunidade de nos conhecermos e ficarmos todos amigos. Eu estava indo para o ensaio do teatro, desci na plataforma do metrô Ana Rosa e disse ao funcionário que esperaria uma amiga na catraca. Ele me conduziu até lá e me deixou do lado de dentro, antes da catraca. Um segundo funcionário correu até nós e apressou-se em dizer: “Traga ela pra cá, o pessoal dela já está aqui. Não é o pessoal com deficiência que vai pro teatro?” Contente por não ter que esperar, respondi imediatamente que era sim. E, enquanto o primeiro funcionário me levava até o grupo, pensei “Engraçado, será que todo mundo resolveu também chegar cedo hoje?” Bom, mas o funcionário certamente sabia o que estava dizendo, todos os domingos, dia do nosso ensaio, ele assiste a um grupo de pessoas, com e sem deficiência, encontrar-se ali para seguir junto rumo ao Teatro Dias Gomes. Chegamos ao grupo, mas ninguém pareceu me ver. “Tem uma moça loirinha bem aí na frente” informou-me o funcionário. Pensei então na loirinha mais loirinha do grupo e chamei “Aninha! Aninha!” e nada... Que sensação estranha. Sei que meu grupo do teatro é grande, mas será que uma parte dele realmente não me conhecia ou não me notaria? Acho que não. Perguntei ao funcionário quantos eram no grupo, e ele me respondeu que eram uns vinte cegos. Opa, no meu grupo somos apenas seis do apagão e da baixa resolução de imagem, dentre outras deficiências. “Moço, acho que esse não é o meu grupo” falei decepcionada ao funcionário “mas pode me deixar aqui perto que minha amiga me acha quando chegar”. Assim ele fez, só me arrependi de ter dito a palavra “perto”... Primeiro foi uma moça, mãe de uma menininha cega, que se aproximou perguntando de qual escola de cegos eu era e dizendo que ainda não tinha me visto naquela excursão ao teatro. Depois foi um senhor, que veio me perguntar sobre a peça que assistiríamos, depois outro e mais outro, e de novo e de novo eu explicava que meu teatro era outro. Após uns bons minutos de espera, o grupo pareceu completar-se e seguiu rumo ao Sesc, onde assistiriam a uma peça teatral. Achando graça da situação, fiquei ali rindo sozinha. Agora o ambiente era silencioso e suspirei aliviada. Ouvi alguém correndo em minha direção, era um senhor forte que me pegou pelo braço e tentou me puxar dizendo:
-Vem! Vem! Nós esquecemos você! Vamos rápido!
-Não, moço, eu não estou indo pro mesmo teatro que vocês. Expliquei rindo mais um pouco.
-Como não? Você não é do nosso grupo? ele perguntava quase estupefato.
-Estou indo pra outro lugar, nem conheço ninguém do grupo de vocês.
-Não tem problema, vem assim mesmo!
Claro que a essa altura ele já havia compreendido o engano e estava brincando. E esperamos, pessoal, que o restante das pessoas, as pessoas que enxergam e todos os seus “colegas” de visão perfeita, também não demorem muito pra entender que nós, pessoas com deficiência, não viemos e nem vamos todos para o mesmo lugar, que não temos todos a mesma personalidade e nem fazemos todos as mesmas escolhas.