terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Uma garfada, três gargalhadas

Bom, eu prometi. E, como sou uma moça de palavra, e de ação, Estou voltando pra contar como foi o “Comendo no Escurinho” , o jantar que fiz e propus a meus convidados que comessem de olhos vendados. Pra começar, eles entraram de cabeça na brincadeira e nem quiseram que eu contasse o que era o cardápio, preferiram exercitar o paladar e tentar descobrir sozinhos. Combinado então. Já vendados, foram todos guiados por mim até seus lugares à mesa. Depois dei algumas dicas básicas sobre o manuseio de talheres, copos e pratos na ausência de visão, pra aliviar um pouquinho a barra dos ceguinhos de primeira viagem. Hehe! Aos poucos, eles próprios foram descobrindo suas técnicas e maneiras de se situarem e de localizarem o outro, com estalinhos dos dedos, com batidinhas do garfo no copo de vidro. Servi suco a todos, um suco maravilhoso, de melão com abacaxi e hortelã, que nosso amigo, e ator, e músico, e compositor, e agora suqueiro Bianco Marques fez. “Por que eu estou com a sensação de que a Sara é a única que enxerga aqui?” perguntou Danilo Nardelli, abrindo a sequência de percepções interessantes da noite, “escura”.

Sara servindo aos amigos Ângela, Danilo e Vânia, vendadosAí veio a entradinha: ovinhos de codorna, para serem fisgados com palitinho e passados numa maionese de berinjela. Maldade? Imagina! Nem servi comida japonesa pra ser comida com os temidos hashis! (Hum, boa ideia para a próxima... hahaha) E foi um tal de espetar a mão do outro, espetar o prato, a vasilha, a mesa, tudo era fácil de alcançar, menos o ovo. Mas a batalha foi um bom começo pra galerinha se virar no apagão, tanto que depois foi surpreendente a pouca bagunça que eles fizeram; eu juro que subestimei meus amigos e familiares e achei que ia rolar comida derramada, copo virado, garfo voador, sobremesa roubada sem querer do pote do outro. Mas não, todos se saíram muito bem, com o risoto ao fungi, o saladão de legumes, grão de bico e hortelã e a sobremesa pra lá de refrescante e saborosa de gelatina em cubinhos coloridos ao creme, feita por nossa amiga, e cantora, e professora, e jornalista, e agora gelatinista Vânia Lee. Claro que foram inevitáveis as garfadas fantasmas (aquela garfadinha que a gente abocanha com tudo e...não veio nada!), as derramadinhas de grão de arroz em torno do prato, as tentativas frustradas de acertar a boca; normal, todo cego amador passa por isso... Divertidas também foram as tentativas de cada um de adivinhar o que estavam comendo: “uma porção de bolinhas de gude”, “uma coisinha molinha que se parece um peixinho”, “será que estou comendo o mesmo que ele? Não estou achando nada disso!”

Ah, e não posso deixar de contar o surreal momento pré sobremesa, quando todos, já munidos de seus respectivos potinhos, uns de vidro e outros de metal, e colheres, e já embriagados de gargalhadas, endorfina, suco de melão e fungi, improvisamos uma bela orquestra rítmica, produzindo tilintares de diferentes timbres com colher no vidro, colher no metal, vidro no metal, colher na mesa, vidro na mesa, mesa no metal... que loucura! Foi melhor que ser criança. E o resultado de tudo isso, além de muitas, mas muitas gargalhadas, foram as mais ricas percepções: “Parecia que eu estava em outra dimensão... E, quando todos falavam ao mesmo tempo, eu me sentia perdido e ansioso.” disse Bianco, imediatamente após tirar a venda. “A gente come mais devagar.” percebeu Danilo. “Sara, você chutou no meio do gol!” falou nossa amiga, e atriz, e cantora, e professora Ângela Oliveira, aprovando o cardápio e os sabores. Se todos gostaram tanto assim da comida, não sei, mas da brincadeira tenho certeza que todos amaram! E quanto à cozinheira, estejam certos de que ela curtiu cada momento, cada descascar de ovinho de codorna, cada pedacinho de cenoura cortado, cada fungi picadinho, cada risada. E não é que eu estou gostando desse negócio de cozinha não mais só pra comer? :)



Risoto ao funghi, salpicado com queijo parmesão No centro da mesa, salada colorida de grão-de-bico, cenoura, vagem, milho, azeitonas, pepino e hortelã, rodeado de copos com suco e pratos.

Quem enxerga disse que os pratos ficaram bem bonitos. Estão aí as fotos pra quem quiser, e puder, conferir. Parabéns aos colegas de apagão por um dia e obrigada pela contribuição e pelo amor de vocês, amigos queridos e papai e mamãe!

Sara e os quatro amigos, já sem as vendas, sorrindo para a foto

3 comentários:

  1. Adorei!
    Ficou lindo o texto e descreveu muito bem aquela noite especial e tão cheia de descobertas!
    Beijo Sarinha!

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  2. Enquanto ainda estudam o shitake e suas propriedades estimulantes de produção de endorfina, já era de se esperar que um jantar na sua casa tivesse muitas gargalhadas e acabasse com música! hehe
    (Lembrei daquela expressão usada quando uma comida é muito boa: "pra comer de olhos fechados". rs)

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  3. Tb quero!!!! Adorei ler sobre essa experiencia que vcs tiveram juntos.

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