segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Paixão Antiga

Sara Bentes e Jorge Vercilo

É, pessoal, é duro de acreditar que ainda hoje ouvimos histórias absurdas de discriminação contra as pessoas com deficiência. Ontem mesmo ouvi de uma amiga cadeirante uma dessas histórias, de extremo descaso, e até maldade, que ela viveu com a produção do show de um ídolo internacional que esteve no Brasil semana passada. Ainda é tanta ignorância, despreparo e desinteresse, que vale a pena registrar e exaltar atitudes atenciosas e sensíveis, como as que me envolveram também na semana passada. Na última terça-feira, dia 5 de Outubro, a prefeitura de Volta Redonda trouxe para a cidade o show do Jorge Vercilo, e ainda em dose dupla: uma sessão às 19 e outra às 21 horas. Como minha paixão pelo moço já é antiga, e sua voz, sensibilidade e criatividade já me acompanham intimamente há mais de uma década, claro que fui prestigiar! O show, que mesclou músicas do novo CD, o DNA, e os hits de toda a carreira do artista, emocionou bastante esse coraçãozinho aqui, em diversos momentos. A companhia de uma amiga muito querida, Nathália Nami, que, diferente de mim, assistia pela primeira vez ao vivo a um show do Jorge, tornou o momento ainda mais rico e luminoso. Ela sempre compartilhou comigo a admiração pelo ídolo e já curtimos juntas muitos discos dele.
Bom, legal, né? E daí? Daí que após a primeira sessão eu fui lá dar um oizinho pro moço. Ele preferiu receber os fãs após a segunda sessão, e aproveitar aquele intervalinho ali pra descansar um pouco, mas, sem nenhuma insistência, abriu uma exceçãozinha e me recebeu, junto de um canal de TV local. Um papinho rápido, para não atrapalhar o descanso do artista, uma fotinha, um abração e um convite singelo: “Fique também para o segundo show!” Puxa vida, o próprio artista sugerindo, não tem como negar! O problema era que só tínhamos ingressos para a primeira sessão. Fomos então, eu e mamãe (Nathalinha já tinha ido embora), perguntar à produção, a de Volta Redonda, se havia jeito de ficarmos, mesmo sem os ingressos, e a solução imediata que eles nos apontaram, sem pestanejar, foi: “Podem ficar aqui do palco mesmo”. Trouxeram-nos cadeirinha, aguinha, e curtimos o segundo show agora dali, da lateral do palco, próximo à mesa de som. E não foi só o próprio Vercilo, mas seus músicos e o pessoal de sua produção, em sintonia com ele, também nos receberam com imenso carinho. Ronaldo Castanheira, um de seus técnicos de som, aproximou-se e me deu, na verdade, um presentão: colocou em mim um fone de ouvido onde eu escutava exatamente o mesmo retorno que o Jorge escutava do palco. Normalmente o som de um show é regulado e equalizado para frente, para a platéia, e o som que se ouve da lateral do palco não é dos melhores; eu ali, sem ver e sem ouvir direito, mal entendendo as palavras cantadas, contentava-me em simplesmente me sentir mais perto do artista tão querido. Mas com o fone, eu podia ouvir claramente cada sílaba e nota, como se ouvisse um Cd; e melhor, sendo gravado ali, ao vivo! Com aquela sensação, uma grande janela se abriu, junto com um sorrisão daqueles de mostrar 48 dentes. Depois Ronaldo me colocou outro fone, onde tocava exatamente o que ouvia o baixista em seu retorno no palco. E depois me mostrou o do violinista, do tecladista, do baterista, com direito a ouvir click programado e tudo!
No meio daquele jeito bem particular e especial de ouvir um show, um jeito que me aproximava do fascinante mundo dos bastidores e das tecnologias musicais, mais uma surpreendente experiência sensorial. Mas aí foi a vez da platéia e dos artistas viverem essa nova experiência sensorial; eu, na verdade, fiquei de fora (porque já estava dentro...) Hem???? Calma, vou explicar: enquanto o público cantava em uníssono, numa bela massa sonora, “Encontro das Águas”, sem acompanhamento instrumental e regido por Jorge, a energia acabou, e todos ficaram no apagão geral! Sem entender muito bem o que acontecia, o povo continuou cantando, no escuro, enquanto no palco foi um corre-corre de técnicos tentando resolver o quanto antes o problema, pois o show tem que continuar. E eu, só rindo do inusitado, já mais acostumada com o apagão, já ia oferecer meus préstimos, minha Izadora, mas logo uma providência foi tomada e a luz voltou. O coro da platéia a esta altura já se desmoronava entre dúvidas, impaciências e especulações: “Será que o show acabou?” Show reiniciado e tudo seguiu só alegria até o final. A toda hora Ronaldo vinha me contar como era algum instrumento diferentão que estava sendo usado no show ou me explicar algo sobre a aparelhagem altamente moderna que o artista usava. Na última música, ele veio tocando um agogô; mostrou na minha mão o que era e me ensinou a tocar. Toquei até o fim da música (com umas ajudinhas dele pra manter o ritmo. J) Poxa, o negocinho é pesado! Mas prometo treinar bastante pra na próxima arrebentar! Agora me dêem licença que vou curtir o meu DNA, um trabalho de arranjos fantásticos e sensibilidade gigantesca que já me arrepiou a pele, caiu no sangue e corre pelas veias, chegando a vários lugares meus, trazendo alegria, amor, esperança, vida, novas idéias e muita força criativa, enfim, só coisas boas! Obrigada, Jorge! Obrigada, Ronaldo e todos que trabalham pra este show continuar!



Sarra sorrindo, com fones de ouvido Sara tocando agogô, orientada por Ronaldo


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