domingo, 13 de março de 2011

Siempre Estarás en Mí

Foto em preto e branco mostra Fito Paez tocando um piano em uma pequena sala, com fotos emolduradas na parede, ao fundo.
Eu tinha doze anos. Era hora do almoço, o sol estava forte e eu estava sozinha dentro do micro-ônibus escolar, parado, esperando o restante dos alunos para voltarmos à casa. Foi quando ouvi no rádio do veículo, sintonizado numa rádio jovem da região, uma raridade, uma música que nunca mais ouvi na mesma rádio. E talvez realmente ela nunca mais tenha tocado ali, mas pelo menos uma vez, no momento certo, ela precisou tocar, pra que eu a pudesse ouvir. A letra da música não compreendi bem, falava alguma coisa de mariposa. Reconheci a voz do Caetano, inconfundível, e a outra voz... hum, era uma voz igualmente única e marcante, tinha um sotaquinho simpático e muita personalidade, alma, uma voz que eu nunca tinha ouvido, mas era como se ela sempre tivesse estado em mim.

Nove anos depois, eu estava no teatro El Libertador, em Córdoba, Argentina, cantando a mesma música que falava da mariposa. Mas não uma mariposa qualquer, uma Mariposa (em português, borboleta) Tecknicolor! Eu sabia que seu autor, o cantor e compositor argentino Fito Páez, era muito querido em seu país, o que eu não sabia era que aquelas duas mil e poucas pessoas cantariam em coro comigo aquela música como se fosse um hino, cantado por todas as idades, a alta voz, cada frase e palavra mais que decoradas. Aquela foi, sem dúvida, uma das maiores emoções que já vivi num palco. Não só pela estrondosa surpresa, ou pela beleza da música, que envolve com alegria a todos que a escutam, mas pela forte presença da arte de Fito em minha vida desde o início da adolescência. Sim, fui uma adolescente estranha, que ouvia música argentina enquanto minha turma de escola estava <br />Foto em close de Fito, de perfil, olhos fechados e rosto levemente voltado para cima.ouvindo os maiores sucessos dance; eu pedia pra minha mãe fazer bolo nos 13 de Março e comemorava daqui de longe o aniversário e a vida do meu ídolo argentino; meu pai, nas frustrantes tentativas de me acordar às cinco e meia da manhã pra ir à escola, depois de esgotar seu repertório de argumentos e estímulos, dizia-me que tinha alguém me chamando no portão, um moço magro, de cabelos cacheados, nariz avantajado, e que falava meio enrolado, com um sotaque argentino, e eu acordava sorrindo diante da fantasia. Já se vão 17 anos desde a primeira vez que ouvi aquela mariposa voar, e ainda hoje ela e seu dono me fazem sorrir.

Sempre fui bastante eclética e gostei de ouvir música de todo canto do mundo, e não foi difícil pra mim me abrir a uma música tão diferente da nossa, tão passional e intensa como a de Fito, uma música que nem todo mundo curte de cara. Sua voz, nem sempre comprometida com a afinação e com a polidez, tem algo que muitas vozes por aí com mestrado e doutorado não conseguem conquistar, e, a quem vive na mesma sintonia de amor, de sinceridade e de coragem, encanta, arrebata. Essa voz, que já me trouxe tanta poesia, tanta inspiração, tantos novos sentimentos e sonhos, acompanhou tantos momentos difíceis trazendo consolo, acompanhou tantos momentos felizes trazendo ainda mais combustível, até hoje é capaz de me arrepiar, e soa tão familiar e arraigada que parece a voz de um pai, um pai que me chama de manhã cedo dizendo: “Lá no portão a vida te espera. Vem, vem viver!” E, além de colorir minha vida com sua Mariposa Tecknicolor, seu Circo Beat, sua Euforia e tantos outros grandes trabalhos, ele acabou se tornando sim uma grande referência musical.

A adolescência acabou faz tempo, mas eu sigo sempre na mesma Fitomania, na mesma Fitoterapia sem planta. ;) E hoje, em mais um 13 de Março, no nosso Fito´s Day, deixo aqui minha lembrança, minha homenagem, meu agradecimento a este artista tão importante, com um vídeo humilde em que eu e Rodolfo (meu teclado) estamos tocando e cantando uma versão que escrevi em português, mas bastante fiel à letra original, de uma canção das mais antigas do Fito: Las Cosas Tienen Movimiento, uma canção que, se Deus quiser e o Fito autorizar, estará no meu CD. ;) Minha cinegrafista e cúmplice, minha prima Aline, que também foi arrebatada pela música de Fito assim que a conheceu, apresentada por mim, e desde então foi uma grande companheira de shows, audições caseiras e buscas por mais informações sobre o artista, assina comigo esta homenagem.

Na verdade posso ouvir música árabe, italiana, chinesa, americana, indiana, posso conhecer e acolher em meu coração novos grandes artistas, mas o fato é que, Fito, siempre estarás, siempre estarás en mi! Y en fá, en sol, iluminando minha vida!





5 comentários:

  1. Ouunn!!
    Linda história!

    Já podem usar uma camiseta escrita "We love Fito"
    hahaha'

    E qnts anos ele fez??

    ResponderExcluir
  2. lindo video! linda interpretaçao!agora so falta a sara cantar com o Fito!!! muy hermoso!

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. A homenagem também poderia se chamar "Fue amor"... hahaha

    Ah, por ser quem é e por tudo de bom que veio junto com o fato de conhecê-lo, um brinde ao Fito. Salud!

    E amei a sua versão em português, desde o dia em que você a mostrou, em sua casa, e tocamos juntas.

    ResponderExcluir
  5. Fito Paez realmente é um artista incomum. A versão de Mariposa Tecknicolor em português com a participação de Caetano Veloso a deixa aínda mais especial.

    ResponderExcluir