segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Diálogos Necessários

Sara abraçada aos amigos do Vez da Voz, em Campos do Jordão

No último fim de semana, eu e a turma da Vez da Voz estivemos no I Diálogo da Inclusão e Acessibilidade de Campos do Jordão. O frio lá no alto da serra estava grande, mas a arte e as discussões propostas ferveram! A cidade, de aproximadamente 50.000 habitantes ainda não tem nenhuma organização de pessoas com deficiência, e estas nem mesmo se conheciam, ainda que a cidade seja tão pequena. Pessoas com deficiência ali sempre existiram, e as questões relacionadas a elas também, mas... pairando no ar, à espreita nas portas das empresas e escolas obrigadas a incluir, jogadas pro canto de uma mesa cheia de papeis, encolhidas num cantinho de casa, procurando voz, procurando eco, procurando vez. Como em qualquer interior, onde esta discussão ainda engatinha (o que não quer dizer que nas capitais a acessibilidade e a integração de pessoas com deficiência sejam perfeitas), vivemos cheios de dúvidas, medos, apreensões e, consequentemente, conceitos pré-concebidos. A linda cidadezinha quase européia do interior paulista viu que era a hora de botar o tema na roda e se movimentou inteira num evento lindo, que contou com palestras, oficinas, apresentações artísticas e até sessões de cinema com audiodescrição, algo que muitas pessoas ali nem sabiam que existia. Profissionais de todas as áreas compareceram, ávidos por informação; o evento teve muita procura inclusive de cidades vizinhas. Encontramos por lá mais alguns dos seguidores da Vez da Voz espalhados pelo Brasil, fizemos novas amizades e eu conheci até um quase colega (porque ele é cadeirante, e não cego ;)) imaginem só, de Volta Redonda! Pois é, até a cidade do aço integrou o público do evento.

Eu saí de lá em estado de graça, feliz por ter participado e contribuído para um momento histórico para a cidade de Campos do Jordão. Hoje, pessoal, não adianta mais dizer que não se tem informação para realizar, para incluir, para integrar, para dar o acesso. Na era da tecnologia e da informação, não existem mais barreiras. Se existe uma internet, interior não precisa mais ser sinônimo de desinformação. Se a informação ainda não chegou, é porque ainda não foi buscada. É uma questão de consciência e vontade; com essas duas simples ferramentas, realiza-se coisas e mudanças grandiosas. Interiores, e pessoas com deficiência desse Brasil, nosso país está construindo a cultura da inclusão, e não cabe mais o medo, a desinformação, os assuntos tratados como tabus. Têm muitos temas por aí que precisam urgentemente ser falados, abordados, discutidos, e nós estamos aí para informar, compartilhar nossas experiências, apoiar, gritar, e também comemorar. Sim, porque embora ainda haja muito o que se fazer, a mudança está acontecendo, e já podemos ver as atitudes se renovando, os olhares também; e o que vem ficando cada vez mais claro para todos nós é que incluir e tornar acessível não é uma questão de fazer um mundo mais justo para nós, pessoas com deficiência, é uma questão de fazer um mundo melhor pra todo mundo.

Parabéns e obrigada, amigos de Campos do Jordão! Que o exemplo seja seguido sem demora!


2 comentários:

  1. Muito bom! Ao ler o texto, lembrei da canção de Milton, quando diz "Tem gente boa espalhada por esse Brasil, que vai fazer desse lugar um bom país!"

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  2. "Sim. Sempre vou a Campos do Jordão a passeio, acho a cidade deliciosa e o frio faz parte de sua beleza! Além dos festivais de inverno com concertos de pianistas, flautistas, etc. contudo, realmente, não há nada voltado especificamente para inclusão. Portanto, louvável iniciativa."

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