quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Vai dar tudo certo! (Se não der tudo errado...) 2

Promoção Uma Música Só Pra Você!

Você já sabe da novidade, não sabe? Dia 25 de fevereiro será o lançamento online do meu novo CD, o “Invisível”! Mas, enquanto isso, você pode ser o felizardo que vai ganhar e ouvir uma faixa inédita do CD antes de todo mundo! Pra concorrer a este presente exclusivo é facílimo: clicar aqui http://www.sarabentes.com.br/page/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo-errado/ e comentar o texto lá, ou qualquer um  dos textos da série deste mês de janeiro, e torcer pra ser sorteado!
Podem participar: pessoas de qualquer idade, residentes em qualquer país.
Promoção válida até 31 de janeiro. Boa sorte, boa leitura e divirta-se!

Vai dar tudo certo! (Se não der tudo errado...) 2



Há males que vêm pra bem. Já dizia meu pai nos meus 10 anos de idade, quando fui forçada a trocar de escola porque a direção da escola onde eu estudava desde os 6 decidiu que ali não era mais meu lugar, que eu atrapalhava o restante da turma etc. Enfim, coisas que me deixaram muito triste na época e lamentei deixar pra trás meus amiguinhos. Mas foi na nova escola, 2 anos depois de meu ingresso lá, que tive meu primeiro contato com técnicas de canto e encontrei espaço e incentivo pra começar a cantar em público, e dali não parei mais. Bom, ali eu já entendi o ditado que meu pai tanto me repetiu. E, ao longo da minha trajetória, fui entendendo que na arte, inexata e subjetiva, o ditado também se aplica e que, frequentemente, um “erro” vem a se tornar a cereja do bolo, o toque que faltava, um gol de placa!

Tá errado mas tá mais bonito! 

Exemplo disso foi o que aconteceu na faixa número 1 do nosso CD infantil, o “Faz Sempre Sol”. Arranjo pronto, todos os instrumentos gravados. Só que, pra ganhar tempo, o violino e a flauta não gravaram todas as repetições do refrão; afinal a tecnologia está aí pra nos ajudar e, com o bom e velho ctrl C ctrl V, a gente ganha um tempão de estúdio. Quando o Júnior, nosso operador de estúdio, foi colar o trechinho de violino que cantava junto com a voz, sem querer ele colou num outro ponto, entre uma frase e outra de voz, e ficou como um contracanto de violino. “Opa, desculpa, tá no lugar errado” ele disse, já se apressando em descolar o violino dali. Eu e todos os músicos no estúdio, encantados com o efeito inesperado do violino no lugar “errado”, protestamos: “Não, não, não! Deixa aí. Tá errado mas tá mais bonito!” Ouvimos de novo e, rindo muito, todos concordamos que assim estava melhor. O Fred Portilho, nosso violinista, gravou mais uma pequena frase de violino só pra criar uma conexão entre o novo arranjo e o antigo e pronto! Agradecemos ao Júnior pelo “erro” e no segundo refrão da  música, “O Maior Brinquedo do Mundo”, figura pra sempre assim, o violino no lugar errado porém muito mais bonito.
A música tá no Youtube, num clipe que foi super divertido de fazer: http://www.youtube.com/watch?v=CeR4-IrI0Q8
E tá no Soundcloud, onde dá pra ouvir melhor os detalhes: http://soundcloud.com/sarabentesoficial/o-maior-brinquedo-do-mundo

Por outro lado, há quem defenda a ideia de que a música não passa de uma grande matemática, e muito exata. Apesar de não gostar deste conceito, concordo que muitas vezes um pequeno erro de cálculo na música e uma notinha inesperada podem desandar tudo e até derrubar um cantor da canção. Foi o que aconteceu comigo e meu amigo violonista Eneas Resende num show ao vivo em Juiz de Fora há alguns anos...

Quem Disse Que O Show Não Pode Parar?

A música era cabeluda sim, de harmonia traiçoeira e melodia complexa, mas uma música linda, com grande extensão vocal e que permitia a demonstração de interpretação e técnica mais rebuscada, tanto para o cantor quanto para o instrumentista. A música se chama “Sou Sua Sabiá”, de Caetano Veloso; a cantora, no caso, era eu; e o instrumentista... Ah, o instrumentista... era meu talentosíssimo amigo Eneas Resende, que esbanja criatividade e técnica no violão, muito mais técnica do que eu na voz. Estávamos mais que acostumados a tocar aquela canção, naquele dia porém talvez ele estivesse mais “criativo” que nos outros, e resolveu inventar uma firula justamente num acorde crucial pra uma modulação de tonalidade no meio da música. Bom, a partir daí já dá pra imaginar o que aconteceu, né? O trem descarrilou e fomos um pra porto alegre e o outro pra salvador. Apesar da firula, ele modulou pro tom certo, pois ali no violão sim a matemática é mais exata e ele sabia exatamente em que casa do braço do violão devia montar o acorde; já na voz e na percepção musical a coisa não é tão exata assim, e meu ouvido dependia da dica do acorde crucial dele pra modular o tom, acorde onde ele fez a firula e me confundi, fiquei sem chão, e modulei pra um tom que definitivamente não era nenhum dos 12 que conhecemos aqui no ocidente... E aí passamos os 3 acordes seguintes tentando encontrar um ao outro, eu tentando me acalmar pra perceber o tom do violão e ele tentando perseguir o tom da minha voz; um verdadeiro cataclisma musical. Até que ele, sabiamente, decidiu abreviar o sofrimento nosso e o do público: parou de tocar e me disse a clara voz, sem qualquer constrangimento, como quem chama a amiguinha pra brincar: “Sarinha, vamos começar de novo?” Meu deus, o que dizer ao público nessas horas? Como reconquistar o apoio da plateia depois de parar uma música no meio? Essas interrogações e mais algumas se embaralhavam na minha cabeça naqueles segundos que se pareceram uma eternidade. Enfim, inspirada pela cara de pau do Eneas e iluminada talvez por santa Cecília, falei, no mesmo tom descarado do meu amigo: “Desculpa, gente, mas é que o Caetano Veloso merece que a gente comece de novo e faça melhor.” A plateia nos aplaudiu generosa e recomeçamos do zero, agora sem grandes firulas ou pequenos sufocos.

Assim seguimos, sobrevivendo aos desastres musicais e aprendendo com as experiências e com nossos companheiros. Aprendi e aprendo muito com meu amigo Eneas e aprendi também que somente passando por desafios assim é que desenvolvemos a serenidade necessária pra estar em cena e encarar os próximos desafios, em geral, maiores que os que já encaramos até aqui...

Na próxima semana: quando o cansaço e as repetições te fazem vacilar na concentração e estragar uma cena inteira, quando o apresentador distraído te proporciona o pior vexame de sua vida... Até o próximo episódio!

Leia o episódio 1 aqui: http://sarabentes.blogspot.com.br/2015/01/vai-dar-tudo-certo-se-nao-der-tudo.html

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