domingo, 11 de julho de 2010

Semana de Aventura

Eu, que já velejei, saltei de parapente, voei na tirolesa, desci no rapel, fiz rafting e outras deliciosas loucuras, vivo hoje outros tipos de aventura! Pessoas que não enxergam, bem como as cadeirantes ou com outras dificuldades de locomoção, são perfeitos aventureiros do dia-a-dia. Principalmente quando precisam sair de casa... As ruas, calçadas e estabelecimentos sem acessibilidade se encarregam de fazer de nossos trajetos uma aventura constante! Essa semana por exemplo eu descobri uma nova modalidade esportiva, é o Salto com Bengala, uma versão urbana do Salto com Vara. É muito simples, o atleta só precisa estar cego e caminhar, de preferência com um pouquinho de pressa, por calçadas bem esburacadas, o que é bem fácil de achar em São Paulo por exemplo. Aliás foi lá mesmo que descobri o novo esporte. Não vou dizer que na minha cidade não dê para praticar, pelo contrário, pra todo canto tem pistas, opa, calçadas bastante adequadas. Mas vou contar uma coisa a vocês: de todas as cidades por onde já andei e ando, São Paulo é a campeã em calçadas tortas, mal planejadas e esburacadas. Mas façamos justiça, a capital paulista é também uma das mais avançadas em acessibilidade de um modo geral. Bom, voltemos ao esporte. Como eu dizia, basta estar cego e caminhar com sua bengala a passos rápidos por uma calçadinha bem esculhambada. Aí, quando você menos espera (e aí é que ta a emoção da nova modalidade), a ponta da bengala entra num buraco e pronto, sua vara está fixada no chão pronta pra te impulsionar num salto espetacular! O corpo do atleta, que é cego mas ainda segue as leis da física, continua na velocidade em que estava. E aí, como a mão do atleta cego é treinada para não soltar a bengala quase em hipótese alguma, pois soltando a bengala na rua o cego solta seu tato, ele tem duas opções: ou leva um solavanco da própria companheira inseparável, que presa no buraco não acompanhará o próximo passo do atleta e fará as vezes de um obstáculo de pé no meio do caminho, ou ele aproveita o impulso para executar um lindo salto e, quem sabe, assim chegar até mais cedo em seu destino. E por falar em obstáculo, se houver um canteiro, um poste, uma árvore, um saco de lixo logo após o buraco que segurou a bengala, a aventura fica ainda mais emocionante! Se ganhássemos prêmio por nossas performances nesse esporte, esta modalidade, Salto com Bengala com Obstáculos Surpresa, deveria dar um premiozinho melhor...
Além desta descoberta, a semana pra mim trouxe outras aventuras e novidades. Um dia acordei com o canto dos pássaros e do galo; os passarinhos estavam lá fora, e o galo... bem no meio da testa. Lembrei-me então do atropelamento da noite anterior. Pois é, foi um atropelamento, eu atropelei a porta. No dia seguinte pude perceber quantos amigos eu tenho; contei o acontecido no Twitter e dois minutos depois várias pessoas me ligaram, perguntando pela porta. É, meus amigos, eu digo que a porta sobreviveu, mas o galo, graças a Deus já se foi. Minha orientação espacial até que está se desenvolvendo muito bem, e não atropelo portas nem paredes com freqüência, o que aconteceu foi que interrompi um trajeto que estava fazendo dentro de casa para ir conferir uma panela no fogão, que eu acabara de me lembrar, e me atrapalhei com a quebra de rota. Pra vocês verem que nós aqui do apagão nem precisamos sair de casa pra ter aventura. Muitas simples tarefas domésticas como ferver uma água no fogão parece que viram um bicho de sete cabeças depois que se perde a visão, mas só parece. A reabilitação, que é uma prática orientada por profissionais, vem justamente nos ajudar a reaprender diversas tarefas e a desenvolver nossos outros sentidos de maneira mais funcional. A profissional que está me acompanhando neste processo é a terapeuta ocupacional Suely Carvalho, que está se tornando também uma amiga querida. Ela ajuda a tornar as coisas bem mais leves e divertidas, do jeitinho que a gente gosta, né?  E, além das várias atividades que realizamos, escolhi como o primeiro ambiente doméstico a ser desbravado a cozinha, o melhor lugar da casa, e também o que oferece mais riscos. Nossa, vocês não imaginam minha felicidade quando fiz, umas semanas atrás, meu primeiro feijão! E o melhor: saldo zerado de cortes, queimaduras ou explosões. Que alegria! A gente fica que nem criança com essas pequenas conquistas. Agora eu e a temida panela de pressão somos amigas íntimas. Esta semana foi a hora de reaprender minha adorada pipoca e o café. Por enquanto meu vasto repertório culinário inclui feijão, pipoca, gelatina, café e feijão e pipoca e gelatina e café e... Mas garanto que em breve estarei preparando o banquete, e convidarei todos os amigos e familiares que acreditam na minha superação; e os que um dia duvidaram também serão convidados, e terão que lavar os pratos. HEHEHE
Outro dia conto mais aventuras pra vocês! Pois elas são muitas e diárias.

2 comentários:

  1. Sara, já sabe fazer café e pipoca, então já dá pra chamar os amigos, oras!! hehehe Bjos

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  2. Sara, vc é uma vencedora!!!Tem um montão de mulher por aí que só sabe fazer miojo...rsrs
    Aliás, vc já aprendeu a fazer miojo?
    Qualquer dia te convido pra fazer cupcakes, tal qual aquele que você ganhou lá no nosso evento dos Ledores Voluntários da Vivo.
    E aí, vai encarar?
    Bjks

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