quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Inseparáveis

E viva a tecnologia! Cada vez mais avançada, cada vez mais desejada e consumida, cada vez mais venerada. Graças a ela estou aqui escrevendo pra vocês, graças a ela pessoas como eu podem também botar a boca no mundo e conectar-se a ele, via e-mail, redes sociais, blogs etc, graças a ela pessoas com as maiores limitações físicas conseguem autonomia para realizar muitas coisas não só junto a um computador. Quem visitou a feira de tecnologia assistiva no Rio de Janeiro, citada por mim no último texto aqui do Boca, conheceu cadeiras de roda que sobem escadas, dispositivos como o fantástico e tão desejado aparelhinho que vai permitir que pessoas com deficiência visual tenham independência na hora de tomar o ônibus, celular que, por meio da câmera, detecta luminosidade, cor e nota de dinheiro (ainda em desenvolvimento), leitores de tela com vozes cada vez mais “humanas”, dentre tantos outros aparatos que só vêm trazer mais dignidade à vida de pessoas com deficiência e que antes só existiam nos nossos sonhos mais ousados de tecnologia. Hoje são muitos os avanços e parecem infinitas as possibilidades, embora a maioria desses recursos ainda não seja financeiramente acessível para quase todas as pessoas. Mas não é nesse aspecto que quero mergulhar. Vou contar algo que, aliás, mostra que tecnologias simples e comuns, aliadas a uma boa idéia, muitas vezes são a melhor solução.

Quem leu aqui o texto que postei sobre Giovanni Allevi, um compositor italiano muito gente boa , lembra-se de seu livro, transcrito para o Braille, que eu me desafiei a ler. Pois então, o livro já chegou em minhas mãos, só que em outro formato. Ler um livro em Braille, código que ainda não domino tão bem, e ainda em italiano, me custaria aí talvez uns três anos de peleja. Mas nem foi isso que me fez pensar em outra forma de ler este livro. Os livros em Braille ficam bastante volumosos, e, devido ao peso, sairia muito cara a remessa da Itália para cá. Então minha correspondente no país de Allevi, minha irmã Leda Bentes, comprou o livro impresso e, com o auxílio de um simples mp3 player e gravador, tem gravado sua leitura em voz alta e me manda capítulo a capítulo via e-mail. Baixo os arquivos daqui e tenho me emocionado, rido e chorado com as histórias narradas pela leitura fluida e expressiva da maninha mais velha. A ledora não é tradutora, então os textos estão todos em italiano, o que ainda poderá servir a italianos com deficiência visual se este livro falado for disponibilizado numa audioteca de lá, e é nossa intenção. Há tempos a tecnologia permite a produção e a difusão do Livro Falado; começou com a fita cassete, depois o CD e agora os arquivos digitais, que são muito mais facilmente produzidos, copiados, distribuídos e transportados. E vejam vocês: graças a ela mais uma vez, à tecnologia, minha irmã, que inclusive foi quem, via Skype, ajudou na criação e montagem do blog, lá da Itália, consegue se fazer presente e estar tão próxima a quilômetros e quilômetros, com sua voz, seu tempo, sua doação, sua boa vontade.

Assim como iniciei o texto, quero abrir sua conclusão: Viva a tecnologia! Sim, mas viva mais ainda a boa vontade humana. Ela, que chegou primeiro no mundo, merece respeito, e, ao lado da tecnologia, sua irmãzinha mais nova, torna-se muito mais poderosa e abrangente. Mas a caçulinha tecnologia, sem sua irmã mais velha, não é ninguém nessa vida. Ela se acha, vive a ilusão de que pode um dia dominar o mundo, mas a verdade é que ela é tão dependente da inteligência humana quanto nós, seres humanos, somos uns dos outros e de toda a natureza. Que vivam então inseparáveis essas duas irmãs, só produzindo boas parcerias! Obrigada, maninha!



Um comentário:

  1. Leda ledora! rs
    Amo vocês.
    E viva a parceria das duas irmãs que juntas produzem coisas boas pra muitos.
    Bjs

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