sexta-feira, 23 de julho de 2010

Responde!

Socorro, estou sem interrogação! Temporariamente estou impossibilitada de fazer perguntas, só posso usar pontos, vírgulas, dois pontos, exclamações, reticências, enfim, tudo que não seja a simpática amiga de formas arredondadas. Nem pensar nos “por quês”, “serás”, “pra quês”, “comos”, “quandos”, “ondes”, e qualquer outra curiosidade. E o pior é que nem dá aqui pra perguntar como será minha vida sem indagações. Como será... não dá, não tenho interrogação para chegar até o fim da frase interrogativa. Eu, logo eu, tão questionadora sobre as coisas do mundo, de mim mesma, da vida, de repente me deparo com um teclado de computador desprovido do ponto de interrogação. Já procuramos, vasculhamos, mas ele não está na função da tecla que o exibe desenhado e nem nas segundas e terceiras funções de qualquer outra tecla. Por algum motivo cósmico, seja do universo da informática ou do nosso mesmo, a interrogação se escondeu de mim. E não consigo nem perguntar o que fazer... O máximo que conseguimos desse teclado subversivo foi isso: ¿ Não, obrigada, uma interrogação de cabeça pra baixo não resolve meu problema! Meus questionamentos já são complexos o bastante, imagine-os virados de ponta-cabeça! Sou uma apaixonada pela língua espanhola, amo música argentina e mexicana, mas, com todo o respeito, não posso ferir minha escrita em português com um ponto de cabeça para baixo.
Quando criança, lembro-me bem, alguns livros didáticos da língua portuguesa sugeriam como exercício de redação a divertida tarefa de imaginar como seria a vida com o sumiço do “não” e criar uma historinha sobre isso. Imaginativa como sou, foi inevitável agora pensar em como seria o mundo sem a interrogação. Logo imaginei como seriam diferentes tantos momentos da vida, o que seria evitado, o exercício que faríamos para nos virarmos sem perguntas, pensei naquela pergunta que nunca deveríamos ter feito, naquelas respostas que preferíamos não ter ouvido, na pergunta que nunca quisemos que fosse dirigida a nós, na curiosidade insaciável de algumas pessoas, nas saraivadas de perguntas maternas: que horas, pra onde, com quem, etc. Viajando nesta fantasia, cheguei à conclusão de que o mundo ficaria feito a interrogação usada no início das frases interrogativas da língua espanhola: de cabeça para baixo... As pessoas viveriam mais isoladas, teriam mais dificuldade em conhecerem umas às outras, andariam ainda pior informadas e talvez até algumas profissões seriam extintas, ou teriam de passar por uma imensa reformulação. Imagine advogados, investigadores, jornalistas, médicos, todos exercendo suas profissões sem o auxílio das perguntas. Ou então, surpreendente como é a capacidade humana de adaptação, todos iriam se acostumar e descobrir outras formas.
De qualquer modo, resolvi aproveitar o que a idéia pode trazer de bom para a minha vida, e talvez seja hora mesmo de fazer menos perguntas e mais afirmações, talvez meu teclado, com sua tecla que não responde, esteja querendo me dizer: Chega de pergunta e responde! Em certas fases da vida, como a que atravesso agora, perdemos um bom tempo com demasiados porquês, demasiados serás: por que comigo, por que justo agora, por que tanto assim, por que desse jeito, será que amanhã, será que eu consigo, será que ele, será que ela, será que a vida, será, será será... Quando na verdade ganhamos tanto mais nos levantando do questionamento introspectivo e afirmando: eu posso me sentir melhor, eu sou capaz de..., eu consigo..., eu aceito as mudanças..., eu identifico em mim.., eu sou, eu vou, eu posso. Quero me valer também dos pontos finais em negativas; muitas e muitas vezes nos atrapalhamos permitindo a entrada de coisas e pessoas e situações em nossa vida simplesmente pela dificuldade que temos em dizer “não”. Frases como “eu não preciso mais disso em minha vida, eu não posso dessa vez, eu não quero isso para mim” são também extremamente necessárias em determinados momentos. E assim como o ponto, sigo aproveitando e degustando as exclamações, que desejo tanto usar exclamando somente coisas positivas, dizendo o que quero dizer com vigor, com volume, para que todo o meu ser seja capaz de escutar; sigo aprendendo sobre as vírgulas, que me oferecem a pausa, para respirar, retomar o fôlego, permitir que o ar oxigene todo o meu corpo, minha mente, alimentando as idéias e a vontade de prosseguir, até o ponto final.
Mas olha, não é a todo mundo que recomendo o repouso do ponto de interrogação. Muita gente comete excessos com os pontos finais, ordenando, exigindo, decidindo e ponto final, sem se lembrar de antes perguntar se podemos, se queremos, o que achamos, como nos sentimos em relação a... A brincadeira de imaginar o mundo sem interrogação acabou, e temos à nossa disposição, felizmente, uma diversidade de opções em relação a pontuação, tipos de frases, e, principalmente, uma infinidade de palavras. Estamos todos aprendendo a escolher a melhor frase, as melhores palavras, a melhor maneira de comunicar, de pedir, de perguntar, de afirmar, de negar, de chegar até o outro, de chegar a si mesmo.
E eu continuo sem interrogação... Sim, “mais vale uma pergunta bem feita do que mil respostas bem dadas”, já disse o filósofo. Eu até ia perguntar que filósofo mesmo disse isso, mas não dá, estou sem interrogação. Sendo quem for, eu o respeito imensamente. Sempre amei filosofar, questionar, imaginar, supor respostas, e fiz à vida questionamentos complexos, perguntas tão inteligentes, tão bem construídas. E ela, de repente, ao invés de me dar mil respostas, aparecia-me com cada pergunta, tão elaborada, tão, mas tão bem feita, como a que sugere o filósofo, que... bem feito, eu não era capaz de responder. E responder as questões da vida não significa somente formular respostas na mente ou num depoimento. Se a vida me oferece perguntas em forma de provações, desafios, acontecimentos, perguntando-me se desejo crescer, perguntando-me quem mesmo eu sou, perguntando-me se desejo tentar de novo, é mais do que justo nesse jogo eu responder com ações, reações, atitudes. Será que parece difí- Opa, quase me esqueci... Reformulando: pode parecer difícil, mas o universo é muito bom, assim como ele nos traz tantas questões, ele também oferece respostas, e seguimos aprendendo a encontrá-las, num silêncio, num sorriso, na voz de outra pessoa, num sonho, numa surpresa da vida e, por fim, no lugar onde elas mais amam nascer: dentro de nós.
Falando nisso, dei uma vasculhada boa aqui dentro e, puxa, acabei de encontrar uma grande resposta! Tenho amigos experientes na informática que poderiam facilmente resolver o meu problema; mh, e acabar com a minha brincadeira... Vocês devem então estar se indagando bem agora por que eu não envio imediatamente um e-mail a eles lhes perguntando o que fazer. É que não posso lhes perguntar nada, estou sem interrogação...

N A: Leitores de tela, como o que uso, atribuem novas funções a algumas teclas do computador. E, principalmente em laptops, que tem menos teclas, isso muitas vezes gera algumas confusões. Os leitores mais atentos do blog provavelmente já se depararam com as tais interrogações de ponta cabeça em um ou outro texto, como resultado dessa incompatibilidade. Quando estou em formulários na internet, caixa de e-mail, qualquer espaço a ser preenchido com texto, ainda consigo digitar uma interrogação, com uma manobra considerável (apertando Control mais Alt mais W), já nos programas de edição de texto, nem pressionando quinze teclas ao mesmo tempo. O texto acima foi escrito há um ano, e continua bem atual, pois nem meus amigos experientes na informática deram jeito na questão. Procuro ficar atenta e sempre pegar emprestada da internet uma interrogaçãozinha para colar em meus textos, mas de vez em quando ainda pode me escapar uma interrogação plantando bananeira por aí, Se acontecer, agora vocês já sabem o porquê. 

6 comentários:

  1. Juro! quando comecei a ler este texto logo fui buscar saber como achar este bendito ponto de interrogação!!! rs Mas pode ter certeza que sua reflexão me fez pensar também: pra que tantas interrogações... a frase do filosófo que você fez referência também me fez pensar mais nas exclamações, nas virgulas e pontos, e deixar um pouco de lado a tal interrogação!!! Acho que é por isso que sempre me pego usando tantas exclamações nos finais de minhas frases! aí foi uma... rs... ela é bem mais simpática não é!!! grande bjo no seu coração... você é demais! Lis

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  2. É, Sarinha... Tem muita coisa na vida para que (ou quem) precisamos deter os questionamentos e viver. Simplesmente viver!

    Um beijo,

    Mara Vanessa

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  3. Eu me pergunto se era uma vez um ponto de interrogação que queria (porque queria) ser espaço. Quis fazer revolução. rs
    As perguntas podem virar o mundo de cabeça pra baixo... E nem a falta do sinal gráfico pode calar nossos questionamentos, seu texto é prova disso. hehe
    Agora um pergunta: control alt W ??? rs
    Bjos!

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  4. Engraçado...acabei de copiar a letra da sua música "Pra Quê" e postei no meu orkut, não é que a tal da interrogação estava lá de cabeça para baixo??? hahahaha
    Vou deixá-la lá pra que eu possa sempre sorrir com ela "plantando bananeira" rsrs

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  5. leticia

    Tem muita gente q é contra menina jogar bola, eu odeio essas pessoas

    elas ainda chamam as meninas q jogam bola de macho-femea.

    Pelo amor de Deus,neh !?

    qual o problema da menina jogar bola se fosse proibido a Marta naum taria ai rica por

    jogar futebol.

    Quando to indo pra quadra a minha mae e meu pai falam q naum quer eu naquela

    quadra so com meninos

    ai eu penso "eu naum vou parar de jogar futebol por causas das meninas de joao pinheiro q naum vao pra quadra"

    entao vou ,quando to la na quadra os meninos me perguntam :

    --O q vc vai fazer na quadra ???

    eu repondo q vou comprar carne...

    o q mais eu iria fazer na quadra

    me da um odio disso...

    entao é assim esse racismo podia acabar....

    .........feito por Leticia gonçalves Amorim.............
    este é meu texto pessoal

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  6. eu sei q esse texto naum tem nada a ver com o inicial mais eu so tava procurando algum lugar para mim posta esse texto entaum ta ai

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